sexta-feira, 30 de setembro de 2016

OS PILOUCOS DA PONTE DE VILELA

Sabe de onde vieram estes piloucos?


Igreja de São Gonçalo de Amarante (finais do séc. XIX)

Pois, estes piloucos têm mais de um século e, como podemos confirmar pela fotografia de Frederick William Flower (finais do sé. XIX), estiveram frente à Igreja de S. Gonçalo, criando um espaço entre a Igreja e o Largo (adro), onde existiam bancos em pedra para as pessoas se sentarem enquanto esperavam pelas cerimónias religiosas.


Ponte de Vilela (Gondar - Amarante)

Com o arranjo do Largo, estes piloucos foram retirados e, como estava em construção o lanço de estrada entre Vilela e Vila Seca, foram aproveitados para colocar na guarda da ponte de Vilela. Para que tal acontecesse, foi determinante a influência do Dr. Álvaro Pereira Teixeira de Vasconcelos, que habitava a casa do Encontro, em Vila Seca, e que pertencia à família dos Pascoaes. Foi também a ele que se deveu a construção deste lanço de estrada.
Alguns dos piloucos já caíram, mas, uma vez que o tabuleiro da ponte vai ser alargado, era bom que, os poucos que restam, dado o seu valor histórico-cultural, fossem lá conservados, ou devidamente protegidos noutro local da freguesia.

Miguel Moreira

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

GONDAR: UMA TERRA COM TRADIÇÃO VITIVINÍCOLA

Gondar afirma-se, hoje, como uma das grandes referências de Amarante na produção de vinho verde.

"Vindima" - anos 50 (fotografia de Eduardo Teixeira Pinto)

Localizada num profundo vale, entre as elevações montanhosas de Carvalho de Rei e de Bustelo e com uma excelente exposição solar, Gondar beneficia de um micro-clima que proporciona às uvas excelente maturação e, consequentemente, vinhos de ótima qualidade.
Estas condições climáticas e geo-morfológicas foram aproveitadas pelos nossos ancestrais para incrementar o cultivo da vinha e do vinho. A existência de alguns lagares escavados na rocha, que remontam, muito provavelmente, à época medieval, são testemunhos dessa realidade. Um deles, o da Tapada / Saída, encontra-se, ainda, em bom estado de conservação e permite-nos extrair algumas conclusões sobre a forma como os vinhos eram elaborados.


Lagar do Tapado (Gondar - Amarante)

O lagar é constituído por dois tanques de pisa que comunicam, respetivamente, com dois pios, localizados a uma cota inferior, para recolha do mosto. De cada lado dos tanques, existe uma outra estrutura, menos profunda, onde se instalava a prensa. À volta do conjunto, vários entalhes na rocha indiciam a montagem de uma estrutura de suporte de uma cobertura ou alpendre. A existência, lado a lado, de dois tanques e duas pias permitia o funcionamento, em simultâneo, de duas pisas, do mesmo ou de diferentes proprietários.
Existe um outro lagar do mesmo tipo, embora mais pequeno, no lugar de Aldeia.
Uma das grandes questões que se coloca a este tipo de estruturas é o da sua datação. A falta de contextos arqueológicos que possibilitem a obtenção de mais informação para o estudo da forma de funcionamento e cronologias destas estruturas rupestres, aliada à escassa informação documental são as principais limitações para a sustentação de propostas cronológicas e funcionais.

Miguel Moreira

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A MINHA ESCOLA

Mesmo encerrada, esta será sempre a minha escola, a nossa escola, a escola de todos os que por lá passaram.


Escola de Vila Seca - Gondar
Já lá vão muitos anos. Passei, ao longo da vida, por várias escolas, mas esta, a de Vila Seca, é a única que trato por “minha”. Tive o privilégio de a inaugurar, no final dos anos cinquenta. Lembro-me do primeiro dia de aulas, dos meus professores, dos meus colegas, das brincadeiras de criança, das “traquinices”, da palmatória (que, felizmente, nunca experimentei). Lembro-me do crucifixo e das fotografias de Salazar, Craveiro Lopes e, depois, Américo Thomaz - figuras que olhávamos como pessoas temidas e poderosas. Enfim,tempos da ditadura...
Lembro-me do passeio final como se tivesse sido ontem: castelo de Guimarães, citânia de Briteiros, Bom Jesus de Braga...
A entrada na escola primária era o nosso primeiro ato de emancipação: abandonávamos o aconchego do lar e a protecção paternal  para começarmos a aprender a viver em sociedade, a defendermo-nos, a criar a nossa própria identidade, a sermos mais autónomos e responsáveis.
A escola de Vila Seca, vi-a construir e inaugurei-a no meu primeiro ano (1.ª classe). Por essa altura chegou, também, a luz elétrica a Gondar e, com ela, a rádio e a televisão (esta, de início, privilégio de muito poucos). Era a “civilização” que chegava.
Da mesma época e da mesma tipologia é a escola das Chedas / Crespelos.


Escola de Ovelhinha - Gondar
Mais antiga, a escola de Ovelhinha. Uma escola do “tipo” Adães Bermudes, como muitas outras que existem por esse Portugal fora. Era uma escola com uma arquitetura muito bonita e com residência para a professora. Desfiguraram-na, nos anos oitenta, com o acrescento de mais uma sala construída por cima da original. Há coisas que não se pensam ou são mal pensadas. Esta foi uma delas.


Pormenor da Escola de Ovelhinha - Gondar

Por favor, preservem as “nossas” escolas. Dêem-lhes vida. Elas fazem parte do nosso património, do imaginário de muitas gerações.

Miguel Moreira

sábado, 10 de setembro de 2016

O PAÇO DE D. LOBA EM TERRAS DE GUNDAR

Desconhecemos a localização do paço de Mem Gundar, pois ignoramos a existência de quaisquer vestígios físicos da construção ou documentos escritos que o refiram.
O mesmo não acontece em relação à sua filha D. Loba Mendes. Sabemos que casou com Diogo Bravo de Riba de Minho e que teve como sua residência o Paço, com o seu nome, em Mormilheiro ou “Mor Milheiro” (topónimo de origem galaico-portuguesa, alusivo à cultura do milho), em terras de Gundar. Uma obra de 1739 sobre a vida e obra de S. Gonçalo diz o seguinte: “ Outro dia se fue Gonzalo à casa de una señora, llamada Doña Loba, en el Lugar de Gundar” (1). Por outro lado, nas Inquirições de 1220 (D. Afonso II) Padronelo ainda não era freguesia, sendo referido apenas em função da ermida aí existente (Ermida de S.to André)(2). Daqui se depreende que o Paço de Dona Loba se localizava em Gundar e não em Padronelo e que o território sob o domínio de Mem Gundar ia muito além dos limites da atual freguesia de Gondar. 


Paço de D. Loba (Fachadas norte e poente)

Paço de D. Loba (entrada principal)

Classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 95/78, de 12-09-1978, o Paço de Dona Loba é uma construção medieval (séc. XII) de gosto românico. Trata-se de uma construção em silharia de granito, com planta retangular de razoáveis dimensões. Do edifício, em ruínas, resta apenas o piso térreo, mostrando uma única abertura constituída por uma larga porta em arco abatido. A construção implanta-se de encontro à encosta, dominando um amplo vale, em socalcos, ao longo do rio Mendes (esta designação poderá derivar do sobrenome “Mendes”).
Trata-se de uma obra de arquitetura civil (Paço), mas que, considerando a sua localização, a época em que foi construída, a linhagem dos Gundares (cavaleiros) e o topónimo “Lugar daTorre”, poderia ter também funções militares. No entanto, considerando as ruínas existentes e o tipo de porta, semelhante a outros “Paços” da mesma época, trata-se de uma residência senhorial, ou seja, é mais um símbolo do poder senhorial sobre o território do que uma construção militar.



Paço de D. Loba (interir do edifício)

O que resta da construção, ainda que em avançado estado de ruína, permite-nos conjeturar sobre a estrutura do edifício. Pela dimensão do piso existente e a robustez das suas paredes, este teria vários pisos e alguma imponência. No interior pode ainda observar-se mísulas salientes que constituíam os apoios dos vigamentos do segundo piso ou, porventura mais certo, de três arcos que elevariam o pé-alto do primeiro e sustentavam o segundo piso. Poderia ainda existir um terceiro piso que, certamente, seria rodeado de ameias no topo. Craesbeeck refere que o paço "mostra ser de dous sobrados", isto é, dois andares acima do piso térreo. As mísulas exteriores serviriam para apoiar balcões bem ao gosto medieval. O acesso interior aos diferentes pisos era, normalmente, feito por escadas em madeira, daí não existirem vestígios de escadas no piso térreo.
(1)- Lardazar, Fr. Manuel, Compêndio de la Vida del Glorioso S. Gonzalo de Amarante, 1739.
(2)- Machado, Maria de Fátima, A Região do Tâmega no séc. XIII, I Congresso Histórico de Amarante, 1998.
Miguel Moreira

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

OVIEDO: TERRA NATAL DE MEM GUNDAR

A vinda de Mem Gundar para Portugal só pode ser entendida no contexto da Reconquista Cristã da Península Ibérica após a ocupação árabe. Esta inicia-se com a batalha de Covadonga, em 722, onde, apesar da superioridade numérica do exército muçulmano, os asturianos, refugiados na “cueva” de Covadonga e nas colinas sobranceiras á garganta que ali se forma, se lançaram sobre eles, dizimando grande parte do seu exército. O herói desta batalha é Dom Pelayo, depois proclamado rei e fundador do reino das Astúrias, com capital, primeiro, em Cangas de Onís e, depois, em Oviedo.
Nos finais do século XI, com o avanço da Reconquista para sul e uma cada vez maior ameaça almorávida, D. Afonso VI pede ajuda aos cavaleiros franceses que, ouvindo o seu apelo, partem em seu auxílio. Entre estes, vêm Henrique de Borgonha e seu primo Raimundo. Como recompensa, D. Afonso VI casa Dom Henrique com a sua filha D. Teresa e dá-lhe, como dote, o governo do Condado Portucalense (1096).
É neste contexto que alguns cavaleiros asturianos e leoneses acompanham D. Henrique, a quem é entregue a defesa e o governo das terras reconquistadas, mas também o seu povoamento e cristianização. Entre estes, está Dom Mem Gundar, nascido em Oviedo.


Gruta de Covadonga (Picos da Europa)

Cangas de Oniz - (ponte romana)

Catedral de Oviedo - "Câmara Santa"

As imagens que apresentamos reportam-se à época em que viveu Mem Gundar: Covadonga, local da batalha com o mesmo nome e que marca o início da Reconquista cristã da Península Ibérica; Cangas de Onís, primeira capital das Astúrias, com a sua ponte romana; catedral de Oviedo, que, embora posterior, já em estilo gótico, conserva na sua Camara Santa alguns ícones da Reconquista como “La cruz de la Victória”, atualmente, o símbolo das Astúrias.
Miguel Moreira