sábado, 10 de setembro de 2016

O PAÇO DE D. LOBA EM TERRAS DE GUNDAR

Desconhecemos a localização do paço de Mem Gundar, pois ignoramos a existência de quaisquer vestígios físicos da construção ou documentos escritos que o refiram.
O mesmo não acontece em relação à sua filha D. Loba Mendes. Sabemos que casou com Diogo Bravo de Riba de Minho e que teve como sua residência o Paço, com o seu nome, em Mormilheiro ou “Mor Milheiro” (topónimo de origem galaico-portuguesa, alusivo à cultura do milho), em terras de Gundar. Uma obra de 1739 sobre a vida e obra de S. Gonçalo diz o seguinte: “ Outro dia se fue Gonzalo à casa de una señora, llamada Doña Loba, en el Lugar de Gundar” (1). Por outro lado, nas Inquirições de 1220 (D. Afonso II) Padronelo ainda não era freguesia, sendo referido apenas em função da ermida aí existente (Ermida de S.to André)(2). Daqui se depreende que o Paço de Dona Loba se localizava em Gundar e não em Padronelo e que o território sob o domínio de Mem Gundar ia muito além dos limites da atual freguesia de Gondar. 


Paço de D. Loba (Fachadas norte e poente)

Paço de D. Loba (entrada principal)

Classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 95/78, de 12-09-1978, o Paço de Dona Loba é uma construção medieval (séc. XII) de gosto românico. Trata-se de uma construção em silharia de granito, com planta retangular de razoáveis dimensões. Do edifício, em ruínas, resta apenas o piso térreo, mostrando uma única abertura constituída por uma larga porta em arco abatido. A construção implanta-se de encontro à encosta, dominando um amplo vale, em socalcos, ao longo do rio Mendes (esta designação poderá derivar do sobrenome “Mendes”).
Trata-se de uma obra de arquitetura civil (Paço), mas que, considerando a sua localização, a época em que foi construída, a linhagem dos Gundares (cavaleiros) e o topónimo “Lugar daTorre”, poderia ter também funções militares. No entanto, considerando as ruínas existentes e o tipo de porta, semelhante a outros “Paços” da mesma época, trata-se de uma residência senhorial, ou seja, é mais um símbolo do poder senhorial sobre o território do que uma construção militar.



Paço de D. Loba (interir do edifício)

O que resta da construção, ainda que em avançado estado de ruína, permite-nos conjeturar sobre a estrutura do edifício. Pela dimensão do piso existente e a robustez das suas paredes, este teria vários pisos e alguma imponência. No interior pode ainda observar-se mísulas salientes que constituíam os apoios dos vigamentos do segundo piso ou, porventura mais certo, de três arcos que elevariam o pé-alto do primeiro e sustentavam o segundo piso. Poderia ainda existir um terceiro piso que, certamente, seria rodeado de ameias no topo. Craesbeeck refere que o paço "mostra ser de dous sobrados", isto é, dois andares acima do piso térreo. As mísulas exteriores serviriam para apoiar balcões bem ao gosto medieval. O acesso interior aos diferentes pisos era, normalmente, feito por escadas em madeira, daí não existirem vestígios de escadas no piso térreo.
(1)- Lardazar, Fr. Manuel, Compêndio de la Vida del Glorioso S. Gonzalo de Amarante, 1739.
(2)- Machado, Maria de Fátima, A Região do Tâmega no séc. XIII, I Congresso Histórico de Amarante, 1998.
Miguel Moreira

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