quarta-feira, 1 de novembro de 2017


“ALMINHAS” do CAVALINHO 


Em dia de “Todos os Santos” e de idas ao cemitério, julgo oportuno dar a conhecer estes pequenos “monumentos” saídos da imaginação e da devoção popular - as "alminhas".

Alminhas em Cavalinho - Gondar
Em Gondar, das poucas que terão existido, as únicas que se conservam são as do Cavalinho.
Em Portugal, abundam no norte e centro, tendo sido o único país do mundo que, na sequência do Concílio de Trento (1545-1563), criou estes pequenos monumentos, marcas profundas da religiosidade popular com enorme carga emocional e sentimental. Inserem-se no culto dos mortos e na crença no Purgatório, um estado intermédio de expiação e purificação.
Localizadas, habitualmente, à beira das estradas e caminhos rurais ou nas encruzilhadas, as “alminhas” são representações populares das almas do Purgatório que suplicam, aos vivos, orações e esmolas para, mais rapidamente, alcançarem o Céu.
As do Cavalinho, que, ao contrário de muitas outras espalhadas pelo país, se encontram em razoável estado de conservação, são de construção muito antiga (séc. XIX, conject.), estando, em nosso entender, associadas à realização da feira do Cavalinho e à construção da estrada da Companhia (pombalina), aproveitando a movimentação de pessoas que estas proporcionavam.
De planta retangular e construídas em cantaria de granito, são encimadas por uma cruz latina, ladeada por dois pináculos ao modo de pirâmide, assentes numa base com cornija moldurada. 

Alminhas em Cavalinho - Gondar
Assente sobre uma bonita pedra talhada em forma de altar, o oratório ostenta no seu interior um painel de azulejos policromados, datado de 1946, onde podemos ver as almas (em representação antropomórfica) envoltas em chamas, com os braços suplicantes implorando Nossa S.ª do Carmo que interceda por elas e as liberte daquele sofrimento. Na verdade, Nossa S.ª do Carmo, que aqui aparece com o menino ao colo segurando o escapulário, era uma das santas que protegiam e intercediam pelas almas do Purgatório. 
Notamos também, no painel, a presença de dois anjos que auxiliam as almas. E, na sua base, um pedido: “Lembrai-vos de nós; Lembrai-vos de nós; Ao menos vós, os que sois nossos amigos; Porque a mão do Senhor nos feriu...”. E, ainda, a data do restauro: 1946.
O nicho, que também contém uma caixa para as esmolas, encontra-se protegido por uma grade em ferro.
As “alminhas” são património. Património cultural e religioso, enquanto expressão da piedade cristã. Património construído, enquanto arquitetura religiosa e expressão de arte popular. Assim sendo, não podem ficar ao abandono como acontece a muitas outras por este Portugal fora. Fazendo parte da nossa identidade, da nossa memória colectiva, devem ser convenientemente preservadas e valorizadas.


Miguel Moreira

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