“ALMINHAS” do CAVALINHO
Em dia de “Todos os Santos” e de idas
ao cemitério, julgo oportuno dar a conhecer estes pequenos “monumentos” saídos
da imaginação e da devoção popular - as "alminhas".
Alminhas em Cavalinho - Gondar |
Em Gondar, das poucas que terão existido, as únicas que se conservam são as do Cavalinho.
Em Portugal, abundam no norte e centro, tendo sido o único país do mundo que, na sequência do Concílio de Trento
(1545-1563), criou estes pequenos monumentos, marcas profundas da religiosidade
popular com enorme carga emocional e sentimental. Inserem-se no culto dos
mortos e na crença no Purgatório, um estado intermédio de expiação e
purificação.
Localizadas, habitualmente, à beira
das estradas e caminhos rurais ou nas encruzilhadas, as “alminhas” são
representações populares das almas do Purgatório que suplicam, aos vivos,
orações e esmolas para, mais rapidamente, alcançarem o Céu.
As do Cavalinho, que, ao contrário de
muitas outras espalhadas pelo país, se encontram em razoável estado de conservação, são de construção muito antiga (séc. XIX, conject.), estando,
em nosso entender, associadas à realização da feira do Cavalinho e à construção
da estrada da Companhia (pombalina), aproveitando a movimentação de pessoas que estas proporcionavam.
De planta retangular e construídas em cantaria de granito, são
encimadas por uma cruz latina, ladeada por dois pináculos ao modo de pirâmide, assentes numa base com cornija moldurada.
Assente sobre uma bonita pedra talhada em forma de altar, o oratório
ostenta no seu interior um painel de azulejos policromados, datado de 1946, onde podemos ver
as almas (em representação antropomórfica) envoltas em chamas, com os braços suplicantes
implorando Nossa S.ª do Carmo que interceda por elas e as liberte daquele
sofrimento. Na verdade, Nossa S.ª do Carmo, que aqui aparece com o menino ao
colo segurando o escapulário, era uma das santas que protegiam e intercediam
pelas almas do Purgatório.
Alminhas em Cavalinho - Gondar |
Notamos também, no painel, a presença de dois anjos que auxiliam as almas. E, na sua base, um pedido: “Lembrai-vos de nós;
Lembrai-vos de nós; Ao menos vós, os que sois nossos amigos; Porque a mão do
Senhor nos feriu...”. E, ainda, a data do restauro: 1946.
O nicho, que também contém uma caixa
para as esmolas, encontra-se protegido por uma grade em ferro.
As “alminhas” são património.
Património cultural e religioso, enquanto expressão da piedade cristã. Património construído, enquanto
arquitetura religiosa e expressão de arte popular. Assim sendo, não podem ficar
ao abandono como acontece a muitas outras por este Portugal fora. Fazendo parte
da nossa identidade, da nossa memória colectiva, devem ser convenientemente preservadas
e valorizadas.
Miguel Moreira
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